25/04/2007

Discurso Comemoração do 25 de Abril - 2007

Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Alcanena
Exmo.s Representantes dos Partidos Políticos aqui presentes
Exmo. Comandante dos Bombeiros Municipais de Alcanena
Exmo. Sr. Comandante do Posto da GNR de Alcanena
Exmo. Pároco da Paróquia de Alcanena
Demais autarcas
Minhas Senhoras e Meus Senhores
É usual, por esta altura, fazer-se uma retrospectiva do que foi esse marco da história recente do nosso país. É costume contar-se o que de bom se ganhou, as oportunidades que foram criadas e, por raras vezes, o que se perdeu ou até as oportunidades desperdiçadas.
Mas não o vou fazer.
O que vos quero dizer pode ser polémico, frontal mas apropriado à ocasião. Estamos em altura de reflexão, não pelo que se passou, mas pelo que significam 33 anos de “liberdade” e responsabilidade democrática.
Porque tenho responsabilidade para não o continuar a fazer e a perpetuar uma memória que o colectivo tem feito por adaptar à sua própria realidade. Sinto-me um pouco saturado de ver uma classe política caduca afirmar que a revolução foi sua e que amavelmente a partilham com o povo. Portanto, prefiro virar-me para o futuro. Prefiro olhar para o legado que nos foi deixado e o que nos reserva o futuro.
E o que nos reserva o futuro?
Não sou nenhum Zandinga ou Professor Alexandrino (personagens do nosso passado recente cuja guerra de audiência quase promoveu a estrelas nacionais, ou celebridades, como hoje tanto se gosta de ver e rever na Televisão), mas em relação ao futuro tenho algumas reservas.
· Pessimismo, dirão uns, que não fica bem com uma vivência tão curta (afinal até nasci após o 25 de Abril de ’74);
· Prudência, dirão outros, pois os tempos que se avizinham são decisivos e as posições que Portugal agora tomar irão influenciar gerações vindouras;
· Tendencioso, afirmarão ainda outros, pois o partido que aqui hoje represento não se encontra no poder e terei que dizer mal a todo o custo, mesmo sem razão, porque é assim que o sistema funciona.
Com reservas, digo eu, porque sempre ouvi dizer que quem não aprende com os erros da história não consegue evitar voltar a cometê-los.
E, ao contrário deste meu discurso, hoje aqui não ouvirão dizer que “o partido que represento tem culpa na forma como as coisas evoluíram”.
Quer se esteja no poder ou na oposição, temos que encarar a vida política como um acto social de grande importância – as decisões que os políticos tomam influenciam as vidas de milhões de pessoas. Mas também as decisões que não tomam influenciam de igual modo. Por isso é que um bom governo prova a sua valia pelos actos praticados ou omitidos e com repercussões a médio e longo prazo e não pela romaria que vai fazendo para lá chegar.
Os meios nunca justificarão os fins.
Neste momento, deve-se pedir a todas as pessoas que votaram no actual governo para perderem a vergonha de dizer que o fizeram e dizer que esperavam mais. Não podemos ficar à espera que um tele-noticiário ou um jornal lhe venha explicar as trapalhadas do governo, ou que o Sr. Pinto de Sousa venha para os noticiários dizer que o país está num pântano para assumirmos a nossa responsabilidade.
Temos que ser nós a ser exigentes.
Minhas senhoras e meus senhores.
A exigência não começa nem termina na campanha eleitoral, nem se resume à política nacional. Também temos que ser exigentes com o poder local. Por vezes tenho pena que não haja um livro de reclamações no poder local e nacional para as pessoas colocarem os seus desabafos e desenganos em relação às políticas dos nossos governantes e autarcas.
Há uns anos discutia-se que a classe politica auferia salários baixos, e que se instalavam riscos de corrupção. Hoje em dia, com o nível da classe política nacional, de todos os quadrantes sem excepção, assistimos a pessoas que recebem mais do que merecem, pois apenas aparecem em público para exibir o orgulho dos cargos que ocupam, ou para falarem sobre assuntos que a classe jornalística nacional acha que vende jornais.
A classe política nacional perdeu a vergonha!
Do Bloco de Esquerda ao Partido Nacional Renovador, de um extremo ao outro, todos os dias somos confrontados com assuntos que não interessam à maioria dos portugueses, mas que servem para calar alguns interesses reais e latentes do também latente e emergente declínio da nossa democracia.
Quando falo em declínio latente da nossa democracia, faço-o consciente do que estou a dizer.
Senão vejamos, e gostaria que me acompanhassem nesta pequena reflexão, de alguns aspectos da nossa história recente:
· Tem-se continuamente perseguido o cidadão cumpridor, com a acumulação de impostos e taxas, que já levam dois terços do que ganhamos, deixando apenas um terço para os bens de consumo que necessitamos, ao mesmo tempo que se pondera aplicar alguns pequenos impostos ao sector da banca nacional – que neste momento controla desde o simples cidadão que possui cartões de crédito e empréstimos, ao governo que necessita de liquidez para o investimento nacional, passando pelos órgãos de comunicação social que também gastam acima do que podem; quando é que os bancos serão obrigados a pagar os mesmos impostos que os restantes empresários, sobre todo o lucro que realizam?
· Fez-se um pacto de regime, tão aplaudido por analistas e comentadores (que são aquelas pessoas que sabem de tudo mais que os outros e que por vezes parecem que vivem noutro mundo, sem dificuldades de espécie alguma), pacto este que serviria para endireitar a justiça nacional e acelerar os processos, que se arrastavam até prescreverem, como se fossem medicamentos receitados em excesso por médicos que frequentam inúmeros seminários e congressos nas Bahamas ou nas Ilhas Fiji – os locais no mundo onde mais avanços médicos se praticam anualmente e durante os meses de férias; pergunto eu – onde estão os resultados desse pacto? Onde está a melhoria do sistema judicial? Onde estão as críticas por não estar a resultar?
· Elogia-se o papel da comunicação social quando está a atacar os nossos opositores e quando ridiculariza aqueles que invejamos os lugares, mas telefona-se para as redacções quando o assunto não nos é conveniente, dizendo aos directores noticiosos que esses assuntos não devem ser publicados sem se confirmar as fontes. Há dois anos atrás, o primeiro-ministro ter que se justificar na comunicação social por utilizar um avião militar para se deslocar a uma inauguração oficial de uma solução ao aeroporto da Portela e Franscisco Sá Carneiro era normal; hoje em dia um primeiro-ministro justificar como conseguiu uma licenciatura sem prestar provas escritas é uma prova de parolismo e atraso do nosso país; pergunto de novo: e os licenciados dessa Universidade, que de independente nada tem, como se sentem hoje? E aqueles que pediram transferências e equivalências entre Universidades e foram barrados com burocracias, que existem e são reais (apenas não o são para os Pinto de Sousa’s deste país) como se sentem? Quem lhes dá voz? O que é feito desses licenciados, ou não, parolos nacionais?
· Ainda em relação aos aeroportos, tantas foram as críticas, ainda há 2 anos atrás, quando o primeiro-ministro tentou arranjar uma solução ao aeroporto da Portela, através do aproveitamento de aeroportos militares que quase não têm uso. Hoje afirma-se que o novo aeroporto é “essencial” (pergunto para quem?) e que vai ser feito, à revelia de todos os interesses nacionais e à custa dos parolos que apenas se preocupam com a licenciatura do primeiro-ministro; Já se perguntaram de onde virá o dinheiro para essa megalomania? A União Europeia já avisou que não existe dinheiro para todos os países que querem investir na rede de transportes (e aqui inclui-se também o TGV), mas o governo continua a insistir na construção do Aeroporto e no traçado integral do TGV. À custa de quem? Do interior do país certamente, que vai ver as transferências de capital para os fundos de coesão e desenvolvimento (que têm como objectivo a aproximação das zonas rurais dos níveis de desenvolvimento das zonas litorais) canalizados para estes dois projectos de relevância nacional. Quem votou neste governo, principalmente nas regiões de interior, sabia que estava a votar para ficar sem dinheiro? Creio que não…
Quando há pouco falava em declínio latente da democracia, queria explicar também a teoria da inversão de papéis:
· Os jornais passaram a ser juízes e a julgar em praça pública e sem necessidade de apresentar provas, quem bem lhes aprouver;
· Os bancos passaram a ser governantes, decidindo quem deverá ocupar a cadeira do poder para manter os lobbies instalados e refastelados;
· Os políticos passaram a ser ou gestores de imagem, receosos de dizer qual o rumo que preferem para o seu país ou Municipio, com medo de padecerem às mãos dos novos governantes do país; ou então pessoas comuns, que nada decidem, nada fazem para não perderem votos, pois se nada fizerem não vão contra a vontade de ninguém e até passam por “boas pessoas”;
· Os juízes passaram a ser os “desgraçadinhos”, por falta de tempo, por falta de recursos humanos e por excesso de processos (também porque os advogados viram como entupir o sistema e atulham as secretárias dos juízes com paletes de papel para processos de lana caprina);
· As forças de autoridade passaram a ser desautorizadas, porque balear um criminoso armado em fuga passou a ser crime e para se condenar um criminoso este tem que ser apanhado em flagrante;
· Os licenciados passaram a ter excesso de habilitações, porque o país parece não necessitar deles, os empresários não estão dispostos a pagar aquilo que eles esperam ganhar e a sociedade acha que eles estão mal preparados;
· A função pública passou a ser a origem do mal no mundo, que tem que ser combatida a todo o custo e com todas as armas, por um lado, mas continuamente alimentada nos gabinetes ministeriais, por outro, que continuam a ter gastos astronómicos e não se fala na sua redução;
· Os apoios e incentivos ao empreendedorismo e às novas tecnologias são a desmotivação e a burocracia, que se tentam esconder com planos avulsos, aos quais se dão nomes pomposos, mas que apenas servem para camuflar o descrédito a longo prazo dessas medidas (como o choque tecnológico, o simplex, o INOVJovem e outros que tais), dos quais este último destaque, o INOVJovem, é uma bela forma de camuflar o desemprego galopante que arrasta o país para problemas sociais de dimensões ainda não totalmente conhecidas;
· A aposta nacional, o grande rumo que deveria ser assumido neste quadro comunitário (QREN) está adiado, assim como o investimento no país, e os fundos comunitários, que algumas empresas necessitam como pão para a boca, estão congelados num qualquer gabinete ministerial, porque ainda não se sabe como justificar a vinda de dinheiro para um país sem estratégia e sem rumo.
Minhas senhoras e meus senhores
Comecei este discurso pelo descrédito e pelas reservas. Mas quero acabá-lo com a esperança e a união. Não por serem palavras bonitas, mas por acreditar ser esse o rumo de qualquer nação nos tempos de corrupção e descrédito institucional que atravessamos.
Esperança, pois foi essa revolução, que hoje parece ser apenas daqueles que a fizeram, que me possibilitou dizer estas palavras sem o receio real de perseguição – ainda que a perseguição esteja sempre presente a quem afronta os poderes instituídos.
União, porque já é tempo de nos unirmos, não pelo espírito do 25 de Abril – que de nada nos tem servido, apenas tem servido a meia dúzia de interesseiros que o trazem para tema de conversa quando necessitam de justificar as suas acções menos claras – mas pelo futuro das gerações vindouras – pelos nossos filhos, netos, sobrinhos e todos aqueles a que queremos bem.
É tempo de deixarmos de defender líderes de opinião e começarmos a lutar por posições e modos de ver a vida – com realismo e sinceridade no que queremos para nós e para os que nos rodeiam.
É altura de sermos exigentes convosco e também com os que nos rodeiam, pois a excelência e o acompanhamento da competitividade europeia não se compadecem com a politica do desgraçadinho que temos fomentado ao longo destes anos. Temos que ajudar quem trabalha e quer trabalhar e não apenas quem tem limitações ou nada quer fazer.
A polivalência não pode ser uma palavra esgotada pelos ministérios quando querem falar em reformas sociais no mundo laboral – deve ser uma forma de entendimento do desenvolvimento das empresas. Os jovens devem ser preparados para a mudança constante dos mercados, para serem empreendedores e para trabalharem autonomamente e em equipa. Essa mudança deve acontecer na formação inicial destes, não apenas pela introdução de actividades extracurriculares, mas, e essencialmente, pela formação dos professores para essa nova realidade e mentalidade.
A responsabilidade tem que ser assumida por todos, como um desígnio nacional.
Desde os jornalistas que julgam em praça pública sem vergonha e sem respeito por nada ou ninguém, até aos políticos que mentem diariamente nos órgãos noticiosos nacionais e locais, passando pelos formadores, que têm que finalmente compreender que, para além de ser um emprego, a formação é um ponto de partida ou de viragem na vida dos formandos, alunos e educandos.
Portugal tem que se virar para o futuro, pela aprendizagem e não pela repressão, pela construção e não pelo controlo desmedido, pelo exemplo, que tem sempre que vir de cima, e não pelas palavras bonitas mas ocas que enchem as parangonas dos jornais e noticiários.
Essa sim, será a melhor maneira de provar aos heróis desconhecidos do 25 de Abril de ’74 – esses sim merecedores de homenagem porque até hoje nada pediram em troca – que o povo lhes está a prestar reconhecida homenagem. E o lutador desconhecido pela liberdade merece esse reconhecimento público e sentido.
Viva o 25 de Abril!
Viva Alcanena!
Viva Portugal!

Sem comentários:

Enviar um comentário