09/02/2006

Entrevista da Vereadora do PSD ao Portal Minderico

1. Faça uma breve retrospectiva dos últimos 20 anos e explique-nos como, em seu entender, passámos de um Concelho dos mais industrializados do País, para um dos mais pobres actualmente.
R Como é do conhecimento generalizado, não nasci neste concelho. Mas é aqui que vivo há 17 anos, nesta terra onde nasceram as minhas filhas. Vim de um concelho vizinho (Torres Novas) que, ao tempo, não tinha tradição empresarial, enquanto o nosso concelho tinha centenas de unidades fabris. Não tinha fonte de riqueza, e Alcanena tinha o melhor índice de rendimento per capita do distrito, posicionando-se no ranking em 20º lugar a nível nacional. Os nossos vizinhos tinham desemprego e a nossa terra empregava a mão-de-obra interna e externa. Alcanena, de facto, ostentava riqueza há 20 anos atrás.
Quando eu adoptei este concelho, os munícipes sentiam orgulho da sua terra. Hoje, volvidas duas décadas, já não encontram a sua identidade e basta olhar ao nosso redor para verificarmos que o concelho está a perder relativamente a outros, em termos de índice demográfico, número de postos de trabalho, fontes de riqueza e qualidade de vida. Assistimos ao encerramento e lay-off de unidades fabris, à deslocação de empresas para fora do concelho, ao desemprego, à miséria encapotada, ao número crescente de idosos abandonados e de casos de violência doméstica, a crianças com fome, a assaltos diários, à tristeza das nossas gentes.
Mas porquê este fado, se nós temos as mesmas acessibilidades, a mesma situação geográfica, tradição empresarial e os outros não? Faltou-nos a visão, a determinação e a coragem de lutarmos contra os grupos de interesse instituídos.
Efectivamente, e fazendo uma retrospectiva, verificamos que, de há 20 anos a esta parte, o concelho tem sido governado pelas mesmas equipas, ainda que se tenham apresentado ao eleitorado com designações diferentes, consoante os próprios interesses e tendo em vista a manutenção do poder. Muitos foram os erros cometidos durante os últimos 20 anos que levaram esta terra à estagnação: falta de ideias e de projectos; incapacidade de atrair outros nichos de mercado, tendo em conta a fragilidade das duas mono-industrias existentes no concelho; inexistência de uma política de incentivo à fixação das actividades económicas no concelho; inexistência de zonas de acolhimento de actividades económicas; perpetuação de um PDM verdadeiramente estrangulador; manutenção das taxas máximas dos impostos cobrados pela câmara; quase inexistente promoção do concelho e do seu potencial turístico, sempre assombrado por um problema ambiental grave que tarda em ser resolvido e que nunca é debatido com a profundidade que merece e que os munícipes carecem; multiplicação de obras de fachada e de equipamentos que, a médio prazo, irão engrossar as despesas correntes, comprometendo, desta forma, o desenvolvimento do concelho e as gerações vindouras, pondo em causa os princípios subjacentes ao desenvolvimento sustentável.
Assim peço aos munícipes que reflictam comigo: o que nos adianta ter um pavilhão multi-usos se não está ao serviço do desenvolvimento sócio-económico do concelho? O que adianta gastar milhões de euros em Centros de Interpretação e de Ciência Viva, em nome da bandeira do Ecoturismo, se a água da Praia Fluvial dos Olhos de Água é frequentemente notícia pelas piores razões? O que adianta rotundas e criação de espaços de lazer, se não são asseguradas em primeira instância a criação de fontes de riqueza para então o munícipe poder fruir os equipamentos colocados à sua disposição?
Desenvolvimento económico não é apenas necessário para a criação de mais riqueza; é essencial para a criação de emprego, através de um projecto integrado capaz de atrair e fixar indústrias, criar zonas de actividades económicas e dinamizar o comércio tradicional.
Mas para isso é preciso ter visão, coragem, determinação e ambição.


2. Diga-nos como é possível continuarmos com problemas ambientais (esgotos) tão graves? Que aconteceu para ser assim?
R O problema com o Sistema de Alcanena é, de facto, de difícil compreensão e assume uma grande complexidade. Com efeito, os empresários do concelho foram ao tempo pioneiros aquando da criação, em conjunto com a autarquia e poder central, de uma sinergia que lhes permitiu desenvolver o Sistema de Alcanena. Este Sistema recebeu, ao longo dos anos, verbas de todos os governos, mas que, aparentemente, não reverteram para a sua manutenção e actualização, de tal forma que, quando o Eng. Sócrates foi Ministro do Ambiente proferiu uma frase que ficou célebre «Para Alcanena nem mais um tostão». Penso ter havido falta de controlo sobre a empresa responsável pelo Sistema de Alcanena, também, no passado, favorecida pela inexistência de concorrentes.
Para além da população, que sofre diariamente com este passivo ambiental, desconhecendo as suas consequências para a saúde pública, os empresários são igualmente prejudicados com a situação, uma vez que pagaram e continuam a pagar a sua quota-parte desde o início, sem contrapartidas ao nível da qualidade ambiental e da imagem da própria indústria devido à pouca qualidade dos serviços prestados.
Também neste domínio, caminhámos sozinhos sem olhar para o lado, nomeadamente para os bons exemplos que os países vizinhos nos dão nesta matéria.
Hoje, a situação tem um novo enquadramento e a actual Direcção da AUSTRA tem mostrado uma atitude activa e de empenhamento na resolução dos problemas ambientais. Neste domínio, não posso deixar de referir o CTIC pelo esforço de investigação e de empreendedorismo, na procura de novas soluções economicamente interessantes e amigas do ambiente, como é o caso do Projecto VERICA.


3. Estando o Concelho no coração do País, que fazer para o recolocar como Concelho grandemente industrializado?
R Para que tal aconteça, temos, de facto, de saber valorizar as potencialidades das nossas terras e das nossas gentes (localização geográfica; acessibilidades; proximidade do nó da A1 e A23, tradição industrial, existência de empresários empreendedores e com larga experiência; mão-de-obra capaz; infra-estruturas ambientais, entre outras), fazendo-as confluir num projecto de desenvolvimento sustentável para o concelho de Alcanena. Esse desígnio concelhio deve ter como objectivo estratégico o desenvolvimento da actividade económica local, garantindo o equilíbrio entre a expansão dos sectores industriais existentes versus a captação de novos investimentos e a definição de novas áreas de localização empresarial.
A sua operacionalização, contudo, implica o assumir de uma série de medidas que são urgentes, a saber:
§ Criação de zonas para a fixação de actividades económicas (zonas industriais, zonas de serviços e de logística);
§ Criação de um Gabinete de Planeamento Estratégico, para a captação de novos nichos empresariais a instalar no concelho;
§ Criação de um Centro de Apoio às Actividades Económicas e Emprego, para apoio e alojamento de empreendedores concelhios, nacionais e internacionais, principalmente virados para as novas tecnologias e para projectos que se enquadrem no “Choque Tecnológico” preconizado pelo actual Governo.


4. Considera o Concelho com potencialidades turísticas/culturais fortes? Se sim, que fazer? Turismo fluvial? Turismo museológico? Turismo ambiental?
R É óbvio que sim. Considero que o Turismo pode, de facto, vir a ser um vector estratégico de desenvolvimento do concelho. Para tal, há que promover a actividade turística, de forma sustentada e em articulação com os restantes sectores, criando uma imagem que seja atractiva para o exterior e que motive a vinda de visitantes, através da optimização das potencialidades do concelho.
Mas não basta falar, é necessário, antes de mais, ir para o terreno e analisar o concelho à luz do seu:
§ Potencial de desenvolvimento do mercado de estadias de curta duração;
§ Potencial de desenvolvimento do turismo de negócios;
§ Possibilidade de oferta de produtos integrados alicerçados em 4 vertentes – turismo activo/desportivo, turismo natureza (rural/fluvial/ambiental), turismo cultural (museológico) e turismo religioso.
Como sabe, o concelho de Alcanena é extremamente rico, em termos da sua paisagem, da localização geográfica (proximidade de Fátima), da actividade desportiva e do seu espólio religioso e cultural (onde os museus assumem um papel preponderante) que lhe permitirá desenvolver as 4 vertentes acima mencionadas.
Temos, de facto, um património natural e cultural invejável.

5. Sendo um Concelho politicamente “à esquerda” (socialista), e recordamos que praticamente todos os vereadores da maioria continuam filiados no PS, que possibilidades vê para o PSD um dia vir a conquistar a Câmara?
R Antes de responder à sua questão, deixe-me esclarecê-lo que não me revejo nessa terminologia de Direita e de Esquerda, que alguns ainda fazem perpetuar, mas que na minha opinião, se encontra desactualizada face aos tempos que estamos a viver.
No que diz respeito à questão que me foi colocada, o facto de o actual executivo ter três militantes do Partido Socialista, penso não ser determinante para a possibilidade de o PSD vir a conquistar a Câmara. Não é esse seguramente o factor determinante, até porque grande parte da base de apoio da actual maioria camarária tem afinidades com o PSD.
Neste momento, o PSD encontra-se num ponto de viragem, de abertura à sociedade civil e de grande seriedade. Penso que as populações estão à espera que o PSD mantenha um sinal positivo de confiança, para proceder à viragem que o concelho carece.


6. Do seu ponto de vista, porque é que o PSD não tem conseguido ganhar em Alcanena, quando ainda agora vimos um candidato à Presidência da República, assumidamente social-democrata, obter a maioria absoluta, com mais de 50% de votos no próprio Concelho?
R Do meu ponto de vista, o PSD cometeu o erro há 20 anos atrás de concorrer sozinho contra o então CDS, tendo ambas as forças políticas perdido para o Partido Socialista, que se tem vindo a perpetuar no poder, sob várias roupagens e rostos. Neste sentido, todos sabemos que, em termos autárquicos, quem está no poder tem sempre vantagem e, se a ideologia dominante no concelho lhe é favorável, as forças políticas contrárias têm mais dificuldade em ganhar o poder. Esta constatação é, de facto, real, daí o Eng. Luís Azevedo há dez anos atrás ter assumido a presidência da Câmara justamente a meio do mandato. O mesmo aconteceu noutros concelhos. Trata-se de uma receita habilmente utilizada e que, salvo raras excepções, tem resultados comprovados.
Paralelamente, Alcanena está a vivenciar um fenómeno, experenciado também no resto do país, de descrença face aos partidos políticos e de sobrevalorização dos ditos “independentes”. Basta olhar para Gondomar, Oeiras, Felgueiras e até para Tomar em que o ex-presidente de Câmara (socialista), depois de ter sido acusado publicamente de uma série de procedimentos menos claros, concorre como independente e conseguiu obter cerca de seis mil votos. O problema é que as pessoas, descrentes como estão da classe política, por vezes agarram-se a estes pseudo independentes (a grande maioria dissidentes dos partidos de origem e que não renegam a sua ideologia) que mais não são do que políticos de carreira – alguns até de duas décadas.
Quanto à outra parte da questão, dizem os especialistas que, em termos de eleições, os únicos resultados com os quais é legitimo comparar para se poderem tirar ilações credíveis é, de facto, com os da eleição homóloga anterior, em que há uma maior proximidade entre as realidades. Desta forma, confundir e comparar candidaturas nacionais com projectos locais é estéril, até porque o Prof. Cavaco Silva ganhou (e muito bem) em quase todos os concelhos do país, independentemente do executivo camarário ser social-democrata, socialista, comunista, democrata cristão ou independente e o Dr. Mário Soares, proposto por um primeiro-ministro que goza de uma maioria absoluta, ficou em terceiro lugar.


7. Que trabalho pensa desenvolver junto das bases social-democratas, para tornar o Partido mais actuante e consequente no Concelho?
R Penso que a população do concelho precisa de um sinal de vitalidade do PSD concelhio e de confiança para, ao sentir a necessidade de mudança, acreditar que o projecto do PSD tem futuro. Ao contrário do que se diz (até porque dá jeito), o PSD sempre fez notar a sua presença pela positiva nas posições que tem vindo a tomar em termos autárquicos, ao longo dos tempos. A prova disso é que o Debate sobre o Futuro de Alcanena, que o Sr. Presidente da Assembleia Municipal orgulhosamente referiu na sua entrevista a este Portal, foi uma proposta apresentada por mim na Assembleia Municipal. Pena tenho eu que o Sr. Presidente da Assembleia não tenha feito logo a seguir o que prometeu – divulgar as conclusões do debate – mas ainda vai a tempo, pois apesar de já terem passado uns anos, continuam actuais , uma vez que os se problemas mantêm.
Este é apenas um exemplo, mas há mais. Quando o PSD apresenta uma moção ou proposta e esta é votada favoravelmente, a notícia que sai nos jornais é que a Assembleia Municipal deliberou, sendo os referidos documentos assinados pelo Secretário da Mesa. Pelo contrário, se é outra força, nomeadamente ICA (como aconteceu após a última assembleia), vem o Sr. Presidente da Assembleia para este portal dizer que a bancada dos ICA apresentou uma moção e que ele próprio sugeriu que fosse extensiva a toda a Assembleia – o que nem corresponde totalmente à verdade. Outr(a)s há que se apresentam em grande estilo, nomeadamente na imprensa, como defensor(a)s de nobres causas e na verdade faltam a cerca de 50% das reuniões para que foram eleit(a)s. Quero com isto afirmar que, o que se passa realmente nas reuniões, aos mais diversos níveis, não é do conhecimento da generalidade da população.
Quanto à estratégia do PSD local, esta vai, necessariamente, passar pela abertura às bases, fomentando uma maior participação, nomeadamente através de informação constante, à sociedade civil, através da promoção de debates e da escuta activa dos munícipes e dos seus anseios.
Também pretendemos proceder à divulgação periódica das propostas apresentadas no Executivo e na Assembleia Municipal, entre outras.
Devo confessar que não tem sido fácil operacionalizar tudo isto, devido aos timings eleitorais. Quem não é político profissional, como é o meu caso, teve que recuperar (após as eleições autárquicas) e pôr em dia projectos profissionais que haviam parado por força das mesmas. Acresce todo um trabalho em redor das eleições de Janeiro e o trabalho inerente a mais uma campanha eleitoral (esta com um sabor muito doce). Por esta razão, não nos tem sido possível fazer os eventos que gostaríamos. De qualquer forma, o contacto com as populações, a ida às freguesias, o acompanhamento dos autarcas PSD, bem como a participação em todas as reuniões do executivo, sempre com uma postura construtiva e interventiva, tem sido para já a minha prioridade.


8. Encara a possibilidade de o Partido reunir com forças vivas da região, sejam elas instituições ou pessoas singulares, independentemente de serem ou não filiadas no Partido?
R É óbvio que sim. Fi-lo na campanha, onde dinamizei uma actividades neste sentido, ”Ouvir para Conhecer e Agir”, reunindo para o efeito com todas as Juntas de Freguesia e colectividades do concelho. Estas reuniões revelaram-se muito enriquecedoras, na medida em que, para além de proporcionarem um contacto directo com as populações de cada freguesia, permitiram fazer uma radiografia ao concelho.
A 2ª fase desta actividade denominada por “Partilha e Discussão para o Esclarecimento da População” consistiu na dinamização de sessões de esclarecimento junto da população.
A dinamização destas actividades foi feita tendo por base a convicção que os partidos não se podem fechar em si próprios, que têm que demonstrar que estão vivos e que faz sentido existirem, na medida em que canalizam as melhores vontades nacionais para projectos locais. Nesta medida, também durante a campanha eleitoral, constitui o Conselho de Opinião, no pressuposto que a participação e a partilha, como valores conducentes ao conhecimento fortalecido do nosso concelho, serão capazes de gerar soluções e medidas eficazes e ajustadas às necessidades das populações.
É nossa convicção que um projecto para o Concelho não se pode fechar num partido e nos seus militantes. É, por isso, necessário dar voz a todos aqueles que acreditam no bem-servir das populações, a todos aqueles que têm o bem-estar comum como preocupação, a todos aqueles que acreditam que o concelho de Alcanena pode instituir um modelo de desenvolvimento, transformando-o num concelho com futuro. É preciso ouvir militantes, simpatizantes e cidadãos que preservam a sua independência e que querem contribuir para o desenvolvimento das terras onde nasceram, onde vivem ou trabalham.
Trata-se de uma iniciativa que não vamos deixar morrer, mas antes manter e desenvolver. É esse o compromisso que assumimos, mais concretamente de reunir regularmente o Conselho de Opinião, dando conta aos seus membros da actuação dos nossos autarcas, ouvindo as suas críticas e sugestões, na certeza que as preocupações e os quereres manifestados são fundamentais para o desenvolvimento do concelho e, consequentemente, para o sucesso das novas gerações.


9. Aceita que se façam referendos locais em casos de extrema importância para o desenvolvimento do Concelho?
R Penso que poderá ser um caminho para mostrar a um executivo, que ainda continua muito fechado no gabinete, quais são as reais preocupações dos munícipes, empresários e demais intervenientes no progresso ansiado para o concelho.


10. Se fosse Presidente da Câmara, aceitaria mudar uma decisão, se lhe fosse apresentado um abaixo-assinado, com a maioria das assinaturas dos votantes de uma determinada Freguesia?
R Sem dúvida alguma.
Apenas colocaria a condição de não ser contra o progresso do Concelho como um todo ou contra normas impostas pelo Poder Central. No caso de se verificar esta última condição, lutaria ao lado da população, junto dos órgãos nacionais competentes para fazer valer as nossas posições, independentemente da cor partidária que estivesse no governo.
A vontade da população deverá ser sempre prioritária, pois é quem elege o poder político e não o contrário.


11. Considera que o actual PDM deve ser reformulado à revelia das populações? Estará disposta a “bater o pé” se considerar que o PDM revisto lesa novamente o Concelho?
R Para mim é um dado adquirido que a revisão do PDM não pode ser feita num gabinete.
Esta revisão tem que ser partilhada – feita com a colaboração dos munícipes em geral e dos presidentes de Junta em particular.
Quanto ao processo de revisão do PDM que está a decorrer, vou estar atenta e procurar secundar as minhas intervenções junto das populações. Como já disse, ainda que este documento tenha que obedecer a imposições legais várias e complexas, ao tratar-se de um documento fundamental para o desenvolvimento estratégico do concelho só fará sentido se atender às exigências justificadas da população junto do poder central.
Para tal, deverá ter em atenção, para além da celeridade necessária, a previsão de questões essenciais como os fogos florestais, as zonas de agricultura, levantamento do estado de ocupação dos solos, entre outras.
Volto a frisar, como o fiz durante a campanha, que todo este processo seria possível realizar, se a atenção do poder autárquico o permitisse, em 18 meses. Já passaram quatro…


12. A dívida da Câmara será resolúvel em que prazo? Tem ideias sobre isso? Julga ser necessário efectuar alguma auditoria à Câmara?
R Quem assume o poder, quando o faz, naturalmente, requer uma auditoria às finanças camarárias, pois ninguém gosta de surpresas com o barco em andamento. Esta para mim é uma premissa que nem sequer é discutível.
Quero, no entanto, esclarecer que não sou, por princípio, contra o endividamento, quando este é uma alavanca para o investimento e, consequentemente, para o desenvolvimento do Concelho. Sou contra, isso sim, o endividamento crescente à banca e a terceiros para fazer obras de fachada, para manter despesas correntes exorbitantes e que se traduzem em gastos sem retorno com combustíveis, comunicações, refeições e salários. Sou contra o facto de haver funcionários a ganhar mais de 16.000 euros/ano em horas extraordinárias. Sou contra a aquisição de viaturas topo gama para a presidência. Sou contra o facto de os vereadores andarem 24 horas por dia com viaturas não identificadas e do município. Sou contra o facto de a Câmara, em vez de dar um sinal de dinamização e de apoio ao tecido empresarial concelhio, aumentar, no espaço de 2 anos, 179% a sua dívida a terceiros, tornando-se insuportável para alguns.
Por tudo isso, considero que o endividamento só poderá ser combatido com um plano de rigor e não pela perpetuação de medidas despesistas. Quanto a prazos, como sabe neste momento sou oposição (os valores que se conhecem do endividamento correspondem a 11.134.615.44€ de empréstimos e 4.082.341.86€ a terceiros) e a assumir o poder daqui a 4 anos, os montantes certamente não serão os mesmos e só face a uma auditoria será possível tomar decisões.


13. Pretende colocar à votação do Executivo Camarário algum projecto a curto-prazo?
R É óbvio que sim.
Onde estou tenho sempre uma participação interventiva. Essa é a minha forma de estar na política e na vida. Neste âmbito, apresentei, logo na segunda reunião, uma proposta para a criação do Conselho Municipal de Segurança com vista à interacção dos diversos agentes políticos, sociais e judiciais. Por ser um problema complexo, não podemos deixar a sua resolução apenas sob a alçada da GNR, ou do Ministério Público. Têm que se envolver os actores sociais, para se resolverem os problemas a médio longo prazo e não com imediatismo.
Basta ver que, na altura em que existia uma situação de pleno emprego no concelho, estes problemas não se verificavam. Daí que o acompanhamento social e psicológico, com técnicos credenciados para o efeito será uma solução mais duradoura que a simples apreensão que, na maioria dos casos, resulta em processos morosos e sem resultados práticos, ou seja, sem a punição judicial merecida.
A proposta de criação do Conselho Municipal de Segurança não seria uma solução imediata, mas seria mais um grupo de pressão sobre os poderes judiciais para a resolução de um problema que se continua a alastrar um pouco por todo o concelho.
Esta proposta foi votada desfavoravelmente pelos Vereadores da maioria e pelo Sr. Presidente, que considerou não ser oportuno a criação deste Conselho apesar da onda de assaltos que tem assolado o concelho.
Dei este exemplo para se perceber que a maioria tem alguma relutância relativamente às propostas da oposição, o que aliás é natural na política, mas não saudável para o concelho. Percebi a mensagem e neste momento tenho feito as minhas intervenções, elogiando o que está bem, criticando o que está mal, manifestando as minhas preocupações, sugerindo mudanças de procedimentos, indagando acerca de factos, números, requerendo informações.
Temos uma relação muito cordial, eu atrevia-me a dizer até de alguma simpatia com todos os elementos do executivo, que se tem vindo a sedimentar. Acredito que, com o avançar do tempo, os meus colegas compreenderão que as propostas ou projectos que irei apresentar não são para marcar a agenda política, não são por protagonismo político, são, antes de mais, porque respondem a reais preocupações do concelho e a problemas que têm que ser resolvidos, cabendo-nos a todos procurar a melhor solução.
Quanto ao teor dos projectos a apresentar, isso como sabe até à hora da sua apresentação a quem de direito e no local próprio, é assunto reservado.


14. Se fosse Presidente da Câmara, quais os projectos a que daria prioridade neste mandato? Seja concreta, por favor.
R Em relação às prioridades que teria para este mandato, mantenho o que defendi na campanha.
A primeira grande prioridade seria desenvolver a actividade económica local e criar emprego, através de:
§ Implantação imediata, nas freguesias de Alcanena e Minde de zonas de actividades económicas (zonas industriais, zonas de serviços e zonas de logística), em locais estratégicos, de modo a potenciar o Nó da A1 e A23, de modo a abranger as empresas existentes no concelho (curtumes e têxteis) e a atrair e fixar novos projectos empresariais;
§ Criação de um Gabinete de Planeamento Estratégico com as seguintes valências:
o Captação de novos sectores de investimento/nichos de mercado;
o Apoio à criação e desenvolvimento de empresas, destinadas à criação de emprego;
o Apoio e valorização de actividades do sector primário, contribuindo para diversificar a base económica actual e para a qualidade ambiental;
o Elaboração de um guia de apoio ao investidor que saliente as diversas vantagens locativas e outras potencialidades concelhias;
§ Planificação da requalificação dos recursos humanos;
§ Promoção de incentivos ao emprego e fixação dos jovens;
§ Dinamização do comércio tradicional;
§ Preparação do concelho para uma economia baseada no conhecimento, através do recurso às novas tecnologias;
§ Optimização do Pavilhão Multiusos, transformando-o num Centro de Apoio às Actividades Económicas e de Emprego, com as seguintes valências:
o Ninho de empresas com apoio ao nível de espaços e de logística;
o Recinto polivalente de feiras e exposições;
o Centro de Formação;
o Centro de Apoio Turístico.
§ Criação de um catálogo com as principais actividades do concelho (Indústria, Comércio e Serviços), que reúna, de forma sistematizada, todos os estabelecimentos localizados no concelho, produtos oferecidos e serviços prestados.
Apostaria igualmente na promoção da qualidade de vida dos munícipes.
Para isso, procedia a:
§ Uma rápida e participada revisão do Plano Director Municipal (PDM), eliminando obstáculos à construção e simplificando processos;
§ Avaliação exaustiva das questões ambientais, procurando, em conjunto com agentes locais e nacionais, soluções para o problema resultante da degradação da rede de colectores do Sistema de Alcanena, bem como para o mau cheiro na sede do Concelho; estreitaria relações com o CTIC, a AUSTRA e outras instituições, parceiros tecnológicos ou empresas na busca de soluções para os resíduos industriais;
§ Captação de investidores privados para a exploração das potencialidades do concelho em termos de energias renováveis;
§ Conclusão da rede de saneamento básico no concelho;
§ Asseguraria que o rio Alviela fosse dotado do caudal ecológico necessário à manutenção da qualidade da água durante todo o ano;
§ Incentivo à reflorestação planificada do concelho com espécies autóctones;
§ A uma aposta na segurança e protecção civil;
§ Interacção com as escolas, no sentido de possibilitar maior sucesso, mais segurança e melhores condições de aprendizagem às crianças e jovens do concelho;
§ Promoção do apoio social e reforçaria a solidariedade;
§ A uma aposta na cultura, tornando-a mais variada, abrangente e participada.
Outra vertente que não pode deixar de merecer a atenção da autarquia tem a ver com aquilo que se pode intitular de Identidade Concelhia, nomeadamente través de:
§ A divulgação da “Marca Alcanena”,
§ O investimento sério no turismo em 4 vertentes – desportivo, natureza, cultural e religioso – e apostando na valorização do artesanato e do nosso património,
§ A revitalização do comércio local, estaria positivamente a criar marcas profundas na população actual e nas gerações vindouras.
Ressalvo o facto de que todas estas medidas estariam na minha agenda para resolver na primeira metade do mandato, tendo sempre em vista que todos os investimentos teriam que ser proveitosos, pois está em risco o equilíbrio financeiro das contas camarárias.
Para a segunda metade do mandato reservaria:
§ Os investimentos na rede desportiva e associativa, com o reforço das verbas para as colectividades e a disponibilização de acessos (transportes) para o acesso às infra-estruturas existentes (que são as necessárias para um concelho com a dimensão do nosso, sem recorrer à construção de novas e que, meu ver, podem hipotecar outros investimentos bem mais necessários).
Outra aposta seria sem dúvida na modernização dos serviços camarários e optimização e valorização dos recursos humanos ao serviço do município.
Estas são aquelas medidas que eu considero prioritárias para desenvolver o concelho já. É obvio que há alguns considerandos que se devem ter em linha de conta. Tudo isto só seria possível mediante a implementação de um Plano de Contenção das Despesas Correntes rigoroso capaz de identificar e corrigir os principais problemas financeiros da autarquia. Por outro lado, não basta construir espaços para a fixação de empresas, é preciso instituir toda uma política de promoção do concelho e de incentivos à fixação de novos projectos, daí a importância da criação de um gabinete estratégico de apoio ao investidor, aliado a uma oferta de lotes para empresas a custo reduzido, ao invés de como alguns preconizam de se venderem os terrenos junto à auto-estrada a peso de ouro. Esta seria uma política completamente errada, do meu ponto de vista, que em nada beneficiaria o concelho a médio e longo prazo.


15. Um pouco egoisticamente e puxando um pouco a brasa a uma questão particular, que muito me motiva, responda-me: será disparate consultar o Arqº Siza Vieira, para dar propostas para execução dos 4 Projectos Museológicos de que se fala para o Concelho? Seria isso bom para o Turismo Cultural da Região?
R Já no passado tive ocasião de responder a essa questão no Portal Minderico. Mantenho tudo o que disse na altura, pelo que seria interessante que o Sr. Coordenador reproduzisse as minhas palavras, acedendo aos arquivos do Portal. Deixe-me apenas acrescentar que, no que respeita à rede museológica, há que fazer uma promoção e incentivo, sustentáveis, ao desenvolvimento dos processos de criação de museus, já em curso, nomeadamente o Museu Roque Gameiro e o Museu da Pele.
Deve-se também salvaguardar os restantes aspectos, nomeadamente:
§ A criação de uma rede concelhia de museus para permitir uma melhor gestão de recursos humanos técnicos, nomeadamente ao nível de museologia, museografia e conservação;
§ O apoio aos museus existentes, no sentido de promover a sua integração na Rede Portuguesa de Museus;
§ A criação do museu da imagem e da memória do ver nos Cine-Teatros S. Pedro em Alcanena e Rogério Venâncio em Minde;
§ O apoio, por freguesia, das associações culturais, dando formação adequada quando as mesmas sejam agentes patrimoniais na área da inventariação, classificação, conservação e dinamização;
§ A promoção do artesanato local; e
§ A promoção do relacionamento das diversas freguesias e associações num espírito de “Município com Identidade” para a concretização de iniciativas de lazer.


16. Que tem a dizer, ao Povo do Concelho, em geral? E ao Povo de Minde, em particular?
R Espero que os munícipes sejam mais exigentes e que interajam connosco para que, todos juntos, possamos procurar as melhores soluções. Alcanena é, neste momento, um concelho que padece de problemas sérios, passíveis apenas de serem resolvidos com trabalho e dedicação e com a criação de sinergias entre os diversos agentes sócio-económicos.
A gestão que se impõe deve ser partilhada e participada, na certeza que todos temos um projecto comum – o desenvolvimento deste nosso concelho.
Esta nobre causa deverá ser assumida por todos como a missão mais importante, que se sobrepõe a interesses pessoais ou a interesses de grupos, quer sejam estes de natureza partidária ou económica ou outras.
Todos estamos cientes que o concelho não aguenta mais quatro anos de obras que em nada contribuem para o seu desenvolvimento. Todos sabemos que o concelho carece de uma política séria e de gente com coragem e determinação para a executar.
Ao povo de Minde em particular, munícipes deste nosso concelho, para além de tudo o que disse acima, apenas gostaria de acrescentar que é preciso manter o espírito aguerrido e destemido na defesa intransigente do desenvolvimento da nossa terra. É preciso procurar a união na certeza que as soluções a encontrar em comunhão serão aquelas que terão mais força. É preciso não deixar politizar a vossa freguesia e as vossas colectividades, para as quais todos ajudaram a construir e com tanto orgulho e esforço conseguem manter.
Em jeito de conclusão, faço votos para que o executivo, liderado pelo Sr. Presidente da Câmara, seja capaz de protagonizar este desafio de desenvolvimento de que o nosso concelho tanto merece e carece.
Enquanto oposição, saberei acompanhar este processo, cooperando e defendendo, de forma intransigente, os interesses dos munícipes e das populações.
De mim, da minha equipa e de todas as equipas que vestem a camisola do PSD, só podem esperar empenhamento, partilha e participação.
Por vezes, a classe política, quando se encontra no poder, perde a noção do que os fez ser eleitos, dos programas que o povo votou, colocando as promessas eleitorais de parte. Esse comportamento não faz parte dos meus horizontes e tudo farei para denunciar os excessos da maioria e para apontar os rumos a traçar para o desenvolvimento económico e social do Concelho. Aqueles que me conhecem sabem, que luto arduamente pelas causas em que acredito e sempre ao lado das populações.

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